SOLIDÃO
De repente me senti absurdamente sozinho. Tinha gente ao redor, mas estava embebido num vazio gigante, o maior de todos. Tentava apalpar algo no entorno e nada. Uma dor penetrou pelos poros com furor, desmantelando minha carne e ossos. Dor misturada com descaso, com desdém, com abandono. Um choro retinto veio do fundo e se instalou decidido. Junto com cada lágrima, pedaços de mim esvaiam pelo ralo. Deu vontade de morrer, de acabar de vez. Nunca tinha me untado numa situação assim. O vazio da solidão berrava fazendo o chão tremer. Era o fim do caminho, nada mais tinha a restar, beco sem saída. Os segundos pareciam séculos impiedosos e cruéis. Meu coração ameaça emperrar de vez. Nunca tinha experimentado tal descaso. O mundo todo virava as costas sem o menor perdão. Assim me vi devastado, escombrado, entulhado. Um lixo. Quando tudo era só devastação, ouvi aquele som. Parecia a trovoada maior do dilúvio, grito desesperado de Deus, sei lá mais o quê. Foi tão forte que me sacudiu todo, impiedosamente, maldosamente, O som ficava mais ardente, mais avassalador. E assim se fez por alguns minutos, talvez os piores da minha vida, com toda certeza. O ronco da patroa ao lado fez dissipar aquele pesadelo dos infernos. Então voltei a dormir, com a alma em paz. Ufa!