O POETA NU
Estou cansado das fotos que não mostram meu retrato
Do juízo absurdo em que sou imerecido réu
Dos que atribuem pai e mãe ao meu pensamento bastardo
E todas as falas que satanizam e queimam de chamas meu céu!
Estou cansado de ser bom ao olhar de quem me engana
De me ver atribuído às ações cuja autoria ignoro
Cansado de acordar, cansado de permanecer na cama
De receber pedras pelas flores que dou, e indiferença quando adoro!
Estou cansado de ser traduzido por idiomas que não falo
De ter lido na minha mente o pensar que não pensei
De ser coadjuvante, mero figurante de meu próprio espetáculo
E de ser o astro principal de um teatro ridículo que jamais encenei!
Estou cansado das satisfações á ética
De calar em respeito à voz imperiosa da hipocrisia social
Cansado sigo a viver num mundo que não é meu, por não adorar ao deus da estética
Por não bater continência à ditadura da falsa moral!
Estou cansado da invisibilidade do meu valor
Da oposta interpretação a tudo que sou
Da falta de absolvição para todos os meus crimes de amor
E de todas as saudades que sinto da compreensão ao meu interior!
Estou cansado da falsidade humana e seu apego material
De dizer o inescutável, de não me mostrar a mim qual sou visto
Da repugnante santidade que o sarcasmo me atribui por mal
Apenas pela coragem que tenho de repudiar aquilo ou isto!
Estou cansado, enfim, das vestes fingidas e de todas as máscaras
Cansado, porque às vezes prefiro a cegueira e a mudez
Cansado porque muitos vestirão essas minhas palavras
Mesmo estando eu aqui na mais completa nudez!