O POETA NU

Estou cansado das fotos que não mostram meu retrato

Do juízo absurdo em que sou imerecido réu

Dos que atribuem pai e mãe ao meu pensamento bastardo

E todas as falas que satanizam e queimam de chamas meu céu!

Estou cansado de ser bom ao olhar de quem me engana

De me ver atribuído às ações cuja autoria ignoro

Cansado de acordar, cansado de permanecer na cama

De receber pedras pelas flores que dou, e indiferença quando adoro!

Estou cansado de ser traduzido por idiomas que não falo

De ter lido na minha mente o pensar que não pensei

De ser coadjuvante, mero figurante de meu próprio espetáculo

E de ser o astro principal de um teatro ridículo que jamais encenei!

Estou cansado das satisfações á ética

De calar em respeito à voz imperiosa da hipocrisia social

Cansado sigo a viver num mundo que não é meu, por não adorar ao deus da estética

Por não bater continência à ditadura da falsa moral!

Estou cansado da invisibilidade do meu valor

Da oposta interpretação a tudo que sou

Da falta de absolvição para todos os meus crimes de amor

E de todas as saudades que sinto da compreensão ao meu interior!

Estou cansado da falsidade humana e seu apego material

De dizer o inescutável, de não me mostrar a mim qual sou visto

Da repugnante santidade que o sarcasmo me atribui por mal

Apenas pela coragem que tenho de repudiar aquilo ou isto!

Estou cansado, enfim, das vestes fingidas e de todas as máscaras

Cansado, porque às vezes prefiro a cegueira e a mudez

Cansado porque muitos vestirão essas minhas palavras

Mesmo estando eu aqui na mais completa nudez!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 01/12/2007
Reeditado em 03/01/2012
Código do texto: T760540
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