eu sou o medo
eu sou o medo
eu sou tão jovem e tão velho ao mesmo tempo
não tenho nem um ano a mais nem um segundo a menos
a vida parece justa
a vida é tão injusta
se você pudesse ouvir minha risada agora
seria como o som das águas da cachoeira depois de um dia chuvoso
mas você não pode me ouvir
preferiu arrancar as orelhas e plantá-las junto às flores que crescem sem espinhos
eu sou a vida
toda vida e morte semeada entre as palavras
eu sou o fim e o recomeço
eu sou a tarde, sou o próprio sol
só não sou culpado pelas areias que se esquentam
não sou culpado pelo suor do homem que puxa seu carro gigante de lata velha como se fosse um cavalo
não sou nem mesmo culpado pela sede do cavalo
eu sou o sol e sou a bonita manhã dentro de uma gota de orvalho
tão jovem e sereno como um relinchar
criando estrelas no céu