A tumba psíquica

Acordo de repente e é como se o mundo não existisse - Em catalepsia ele paralisa sem cessar suas funções de opressor.

Acordo só para que os olhos se fechem novamente e selem o meu corpo nas trevas da mente prostrada no tempo.

Na cavidade em que desço, vejo tudo o que não sou junto ao fétido odor do que já fui.

E no jazigo das possibilidades asfixiadas, jaz eu enterrada viva sob os escombros do nada.

A minha carne é um caixão novilho a carregar os esqueletos dos meus pensamentos já decompostos.

Desci, desci nas profundezas recônditas dos anos e lá putresci. Amadureci até que o suco da juventude ficasse difícil de extrair.

Tudo ainda ocorre enquanto a consciência funciona em meio aos vermes da vida, e a minha pele permanece intacta e polida.

Daqui debaixo escuto passos advindos da superfície, mas ninguém me ouve, e se ouvissem, quem me salvaria de mim?

O som do tempo continua ensurdecedor, será que mais alguém lá em cima ouve os ponteiros abafados em cada coração?

Ah, não posso amar os que estão na superfície, pois eles não me entenderiam, tampouco me amariam com a mesma intensidade, porquanto me entediariam (...)

De palmo em palmo eu quedo das incógnitas, e um leve senso de existência desperta-me do niilismo que subitamente se apossou de mim.

- Letícia Sales.

Instagram literário: @hecate533

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 02/08/2022
Reeditado em 02/08/2022
Código do texto: T7573121
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.