Não-ser

Sou dos outonos amarelados,

Do vinho tinto,

Do vinil de Cartola.

Sou do êxtase e da noite,

Do silêncio ou das bachianas.

Sou das fugas e das madrugadas.

Também sou uníssono

Enquanto sou comédia,

Deboche ou picardia,

Pelos glissandos entremeados.

Sou nudez felpuda e agasalhada,

Que aquece as sobras do que há de ti em mim.

E sou tanto líquido que me gasto, me bebo, embriago.

E maravilho dádivas de um miserável não-ser.