Vejo a solidão no gotejar das torneiras
Dentro dos segundos que se elastificam em horas
Em horas que me acenam como bandeiras
A sinalizar, que tanto faz, se é hoje, amanhã ou agora
Sob luzes acesas é menor a opressão
Já que dentro do silêncio e da escuridão
Juntos, esses dois elementos, transbordam por entre os dedos
Em algo que esmaga o espírito e aprisiona o coração
É trivial que ela, muitas vezes, seja acompanhada de lágrimas
Mas também de rebeldia, de ódio ou de tédio
Que perfuram os livros com olhar de esgrimas
Na procura de alento, mas sem ver remédio
Grande é a sorte dos que contam mais com recursos interiores
Que voam nas asas da arte ou de algum tipo de magia
Sendo que também há os que com o tédio praticam horrores
Ou se jogam numa vida vadia
Sei contudo que é preciso não se sentir só por entre as gentes
E contemporizar com os homens, pobres criaturas como eu, em busca de luz
E tirar então as lascas de nossas feridas latentes
Buscando um sentido naquilo que nos traduz
Rômulo Pessoa