Um poema leviano
Existem alguns dizeres que foram feitos para me irritar,
ao dizer que poetas são emocionais demais para serem racionais
me vejo, única e exclusivamente, na posição de quem deve contestar!
Quem diabos vogou essa maldição sobre nós?
Renunciar a lógica é o mesmo que renunciar a vida e abraçar a morte,
o caos oferece a imersão que anula a própria capacidade de expansão
de tal modo que a análise necessária para excrever um bom poema
se perde em meio a pasmaceira.
Se pela vida já chorei e sangrei
se me permiti o suicídio de matar em mim a parte que sabe que horas devo ir
hoje reconheço em minhas artérias a frieza de saber o que se quer
e entender o que não posso ter.
Hoje compreendo que razão e emoção nos fazem chegar onde queremos:
a razão traça nossas metas e nos faz cumprir nossa função,
a emoção nos apresenta o delírio e nos conduz a autodestruição.
Mas não nego que vez ou outra gosto de flertar com a morte
e saborear o gosto do meu corpo em desintegração,
ver meu peito ser abraçado pela desolação,
contemplar o buraco que se alimenta da minha desorientação.