Cães doutores da veneração

Parei-me para pensar, da coluna que firma a minha estrutura até os fios que findam meu talhe.

Há uma guerra em minha mente, entre o silêncio e o escândalo. No tempo em que me afogo nas palavras - estas que me dizem para vagar ao distante. - Mas quão longe senão o suficiente; onde tal que nos estilhaços não me encontro, e em pedaços subscrevo-me sobre a boa e velha melancolia.

Vejo mais do que gostaria, e teço mais do que fito. A morte já se fez bem-vinda, num discorrido conflito. Pus-me a mercê das verdades, vi a vida dar seus próprios gritos, o mundo ajoelhar-se a hostilidade, e as pessoas serem servos de mitos.

Recolho no peito o forte afago desejo, de retrucar a mim mesmo numa discussão; em que está eu mesmo me vejo, perdendo outra vez de antemão.

Eu preciso de um sono profundo, tanto quanto a eternidade há de ser. Livrando-me da seita deste mundo, para habitar em outro que dantes me havia tal convicção.

Vi a maldade inquieta tramando as perversidades, e fiz as muralhas sobre os muros. Vi o gentil ser mercadejado e o malfeitor comprar teu rumo.

Enfim os falhos são esquartejados, e os fiéis se tornam pecadores. Os pastores são ordinários e os crentes adoradores: cães doutores da veneração.

Pensei ter vencido a mim mesmo, numa última batalha decisiva, em que citei a vida transcorrida e decidi que essa mesma findaria. Mas os olhos de uma dama me ressurgem, fitando em meus sonhos um belo sorriso, pairando nas montanhas ao vento os leves cabelos, e, transcorrendo por fim uma transparente humanidade. - Penso se é verdade, que tal qual vestida de espinho se aproxima, em que os ecos de meus gritos ecoam na surdina, no silêncio de um coração já esvaído.

Hoje o frio me acomoda, a verdade me é franca, a solidão benevolente e a carência impertinente, redundando-me enfim, a ser-me apenas eu.