Ela anda em seu jardim
Ela anda em seu jardim,
O cemitério,
Da terra um dia ela fez
Nascer flor, mas terra ela colocou
Por cima, e depois mais terra
Ela fez a cobrir.
Ela anda em seu jardim,
O cemitério,
No que antes camadas via,
De camadas era feito,
No que vida jazia,
Agora jazigos imutáveis,
Ela anda sem diamantes ou minerais.
Não, não morra em vida,
Não converta em pó o rosto,
Não aceite o pálido sobre a cabeça.
É um apelo de vida essa morte,
É a vida que se vai dos corpos
Que não mais a comportam,
Aos que ainda caminham em passos
Concretos e pulsantes
Clamando ser inserida, reinserida.
Ela anda por seu jardim,
De flores esvanecidas,
Tanta vida desconfigurada,
Vida resetada, vida em marco zero.
Não morras em vida,
Não permaneça pálida,
Vidas inteiras sopraram em suas veias,
Odeie as caixas de madeiras, imensas,
Quebre a lascas uma por uma,
Destrua, desaceite, desconstrua
A morte, sua caixa de madeira,
Odeie a morte em vida.
Não morra um poema pálido.