É bom louvar-te doravante...
(À linda Stéphane Audran)
Tomei algumas medidas drásticas na vida.
A primeira será renunciar ao café.
Meu Deus, com aquele seu aroma
e cor e textura de paraíso...
mente,
e é só mais uma droga.
E fiz isso em nome do cigarro,
que nunca fumei.
A segunda e mais fiel medida é
que abandonei as rosas.
Não posso mais acreditar nas rosas
tampouco.
Vede como transcorre
a vida de uma rosa:
um dia amanhece bebê
um botão frágil, lactante,
não passa de um bebê
embalado no colo da terra
mamando no seio das nuvens
explode
de repente, é uma fêmea lasciva
expelindo aromas sedutores
vermelho-sangue e verde-oliva
seduz todos os sentidos
evoca todos os suores
ereta, pontiaguda, altaneira
dona de si e do mundo
ciganinha, feiticeira
e dá fome, dá sede,
dá vontade da grandeza,
dá utopia do infinito.
No mais mínimo outro momento
eis que é uma senhora
idosa, frágil, respeitável,
sem viço, já murcha,
sem brilho
corcunda
bisavó
sábia profunda...
e só.
E como audácia suprema
um dia as rosas caem
no chão
uma vez só
sem dó
se esquecem que um dia
as admirávamos
e noutro lhes pedíamos
o mais complexo conselho
de quem ganha e perde
foi-se
já não tem mais vermelho...
nem verde...
Ah eu amarei os lírios,
só os lírios,
porque nascem como filhos do sol
têm uma selvagem delicadeza
um violento carinho
que não têm idade
nem seduz
nem apogeu
nem decadência
nem contradição
em sua fugaz intermitência
o lírio me elegeu
seu servo de coração.