OUÇO-TE
Ouço-te na canção do vento,
Que me embala à qualquer lugar!
Ouço-te no meu colóquio íntimo
Com as estrelas que fulguram
E sorriam mudas à minha tristeza!
Ouço-te nas manhãs caladas,
Dos meus outonos gritantes
Criando teia no sentimento, dando vazão
Às sensações labirínticas da vida!
No ruído das noites frescas e sombrias
Ouço-te, como se estivesses aqui,
Nós a sós, o momento de nós
E então, a dor inexiste porque,
Incansáveis, fomos correnteza de rio!
Canto para dentro de mim, agora, pois
Minh' alma finge alegria à não sucumbir
Na curva da vida e me pertenço, só,
Para viver sem saber como viver!
Apenas, indelével, Ouço-te!
O pensamento segue... vestígios...
Prossegue... deixa passar o presente
Recorda... não quer ser, volta ao passado
E ouve de modo triste a alma, se acalma!
Ser-me assim visto a máscara!
Não há mais hora, há apenas tédio e solidão!
Empalidecem as horas, esvazio-me de mim!
O modo como te ouço é como
O declínio da tarde que enfraquece
pouco a pouco, sumindo no poente!
Ouço-te...!