Entre o alfa e ômega de ser
Divagações...
Sei que sou passageiro,
E me exaure a perspectiva de ser eterno.
No jogo de tempo e espaço,
Mas localizo em um ponto perdido,
Sou mais um ponto dentre infinitos.
Consciência delimitada,
Sou partícula que mergulhada no ilimitado.
Tenho asas de suposta alma,
Mas conheço o pó da terra.
Reconheço o encanto das alturas,
Mas bem sei o que se oculta nos abismos.
Vivo morrendo a cada instante,
Ou talvez, morra a cada instante de vida.
Quão próximo e cativo posso ser,
Para depois mergulhar em meu delírio de liberdade.
Não são as letras que dizem,
Pois são meros símbolos tracejados,
Mas alma que nelas eu coloco.
São resquícios de que um dia estive aqui,
São relíquias de uma existência póstuma.
Em não ser parece haver algum encanto em ser.
Pois que é o relativo que nos alimenta,
Ante a pobreza dos supostos absolutos.
E perante todo o saber adquirido,
A aventura está em saber o quanto ignoro.
Para manter minha consistência e propósito,
Vivo um personagem que rouba parte do sujeito.
E em sendo sujeito me abstraio em cansaços,
Me retiro em distâncias, em satisfações escassas.
O ‘até logo’ parece abrigar todo drama da vida.
E em meio a algo como que uma ópera bufa,
Anseio encontrar sinfonias celestiais,
Não por que creio em um céu,
Mas por ele adjetivar toda minha utopia de ser.
Perdido momentaneamente em encanto,
Sei que sonho encontrar pouso em aconchego,
Mas que em contrário isto parece ser meu próprio incômodo,
Pois que não o terei todo tempo que almejo.
E, ah o tempo, quando há de significado nesta ideia.
E o que dizer de significados e ideais?
Talvez que no simples e singelo esteja o Todo.
E este Todo eu apenas pressinto,
Impossível caminhar por certezas,
Meus passos sempre serão dúvidas.
E no provisório de ser,
Haverei de me julgar existido,
Ou talvez existente.
Pois que acusa em mim uma fagulha de anima,
Um fogo brando que se dissipa na brisa
Que se encontra e se faz gota de chuva.
E a chuva cai, escorre pelos cantos do mundo,
Como se este fosse composto por ângulos.
E então um delírio matemático geométrico,
Uma lógica que apenas ilude o raciocínio.
E por um instante tenho toda a paz do universo,
Para depois sentir todo desconforto do seu caos.
E então hora de retornar,
Para o exaurir de cada dia,
Ao gotejar de cada momento.
Pois que no batismo da água,
Existe o ígneo ato de elevação.
E calado contemplo todo o meu silêncio,
E amplio toda minha solidão,
E por olhos que fogem do olhar,
Vejo tantos, como vejo apenas a mim.
Nada concluo,
Pois que o encanto e a graça
Se faz no inconcluso
Que permite o movimento
E o estado de paz imóvel.
Mergulho em mim,
E me guardo do mundo.
E me sinto soberano ao me sentir ínfimo.
Gilberto Brandão Marcon
31/12/2021