abandono
Abandono
Repleto de expectativa inútil
Ansiedade frívola
Pelo encontro dos olhos,
Dos lábios ou das mãos
Abandono
Envolto uma multidão ruidosa
Ganindo, gemendo e
Urrando dores solitárias
de desertos ácidos
Abandono
Ódio sub-reptício
Sobrevivente entre estreitas
Frestas, pelas
entranhas mortas,
mucosas necrosadass
e, desfiantes
Abandono, uma mão solta
no ar
um corpo solto em plena existência,
à procura do improvável oxigênio
Um olhar reticente a procura
De um referencial desaparecido
Ruínas contornadas de maldição
Saudade das saudades
da lembrança imorredoura
do definitivo frugal e diário
que morre fatidicamente amanhã
Abandono
Carcioma da convivência
Presença virtual e fictícia
Ilusão de sombra
E contraluz
Contraste de claro-escuro
Sua ausência presente
E estampada em todas as paredes
Escorrendo por ralos,
Ladrilhos frios,
dobradiças enferrujadas
Silêncio embutido na mágoa
Gotejando continuamente
Minando,
Apodrecendo as
vigas e pilastras
Bases profundas de areia movediça
A engolir passos
insanos a procura da lógica
intrínseca do mundo
Abandono
Abismo do desamor
do desapego,
Da invisibilidade,
Da insensibilidade,
Doação vazia
Carta anônima
Bilhete de suicida
Morte anunciada
Sepultada pela inércia
E indiferença.
Lápide em branco
E sem flores.