abandono

Abandono

Repleto de expectativa inútil

Ansiedade frívola

Pelo encontro dos olhos,

Dos lábios ou das mãos

Abandono

Envolto uma multidão ruidosa

Ganindo, gemendo e

Urrando dores solitárias

de desertos ácidos

Abandono

Ódio sub-reptício

Sobrevivente entre estreitas

Frestas, pelas

entranhas mortas,

mucosas necrosadass

e, desfiantes

Abandono, uma mão solta

no ar

um corpo solto em plena existência,

à procura do improvável oxigênio

Um olhar reticente a procura

De um referencial desaparecido

Ruínas contornadas de maldição

Saudade das saudades

da lembrança imorredoura

do definitivo frugal e diário

que morre fatidicamente amanhã

Abandono

Carcioma da convivência

Presença virtual e fictícia

Ilusão de sombra

E contraluz

Contraste de claro-escuro

Sua ausência presente

E estampada em todas as paredes

Escorrendo por ralos,

Ladrilhos frios,

dobradiças enferrujadas

Silêncio embutido na mágoa

Gotejando continuamente

Minando,

Apodrecendo as

vigas e pilastras

Bases profundas de areia movediça

A engolir passos

insanos a procura da lógica

intrínseca do mundo

Abandono

Abismo do desamor

do desapego,

Da invisibilidade,

Da insensibilidade,

Doação vazia

Carta anônima

Bilhete de suicida

Morte anunciada

Sepultada pela inércia

E indiferença.

Lápide em branco

E sem flores.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 18/11/2007
Reeditado em 18/11/2007
Código do texto: T741961
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