Aos que vieram antes de nós.
Eu vi a minha mãe, brincar de escrever. Eu a vi sorrir ao pegar num lápis de cor, e contornar uma casinha, mal feita mesmo, mas cheia de importância pra ela e me perguntar, que cor é as paredes?
A dor do passado me pega desprevenida tantas vezes que fico estática em minha cadeira encarando ela. Os que vieram antes de nós, possuem um passado imenso e cheio de marcas, eu vi a minha mãe, brincar de escrever.
Brincar com o lápis sobre escrever o mundo, imagina se ela soubesse escrever sobre a dor?
As palavras me fogem, e digo, azul mãe, e ela sorri, pega o lápis e volta a pintar. A imensidão desse gesto é descomunal, exorbitante, e às vezes me faltam adjetivos para pontuar esse ato que presenciei.
Às vezes fico parada pensando nos meus avós e seus amigos e os que vieram antes deles. O que tiveram que sacrificar para que pudéssemos sonhar? Quanta dor habita seu peito?
Percebo em seus olhos um passado cansado, porém não tão triste quanto o peso que ela carrega.
Como libertar as correntes dos que vieram antes de nós? Como faze-los gritarem por ajuda?
O silêncio é perturbador.