Completamente só
Ontem a solidão chegou arroxeando-lhe o olho
Ela se viu caída no chão da cela imunda de sua insignificância
Fazia frio, escuridão e ela jazia em culpa.
As memórias de sua mesquinhez de outrora
Eram algozes de seu espírito precocemente carcomido.
Viu-se num caco de espelho d’alma
Era feia, sombria, esdrúxula, medonha.
Ela soube a razão da solidão ser arbitrária
De ser voluntária, embora não pretendesse,
Embora não planejasse.
Caiu em si, no chão de sua inutilidade
Notou que o destino era a colheita
De sua semeadura podre, de suas escolhas malfadadas.
Era só porque não bem quis ninguém,
Era surrada pela solidão de sua alma desdenhosa.
No fundo não era o que queria, era o que sobrava
De si mesma, da sua detestável jornada.
Em sua cela íntima chovia, a avaria no teto lhe prejudicava
Em sua cara o arroxeado destino de dor
A solidão de quem não cativa bons detentos
Não há quem queira permanecer
Em ambiente tão lúgubre, tão cruel e tão sulcado.
Então pendurou-se no laço do desespero
Partiu o pescoço na corda bamba da depressão
Foi embora relegando aos outros o cuidado que não teve
Com o próprio corpo, com a veste de morta,
Com um capricho último a si mesma.
Foi a única vez na tão prolongada existência morta
Em que não se sentiu completamente só.