Completamente só

Ontem a solidão chegou arroxeando-lhe o olho

Ela se viu caída no chão da cela imunda de sua insignificância

Fazia frio, escuridão e ela jazia em culpa.

As memórias de sua mesquinhez de outrora

Eram algozes de seu espírito precocemente carcomido.

Viu-se num caco de espelho d’alma

Era feia, sombria, esdrúxula, medonha.

Ela soube a razão da solidão ser arbitrária

De ser voluntária, embora não pretendesse,

Embora não planejasse.

Caiu em si, no chão de sua inutilidade

Notou que o destino era a colheita

De sua semeadura podre, de suas escolhas malfadadas.

Era só porque não bem quis ninguém,

Era surrada pela solidão de sua alma desdenhosa.

No fundo não era o que queria, era o que sobrava

De si mesma, da sua detestável jornada.

Em sua cela íntima chovia, a avaria no teto lhe prejudicava

Em sua cara o arroxeado destino de dor

A solidão de quem não cativa bons detentos

Não há quem queira permanecer

Em ambiente tão lúgubre, tão cruel e tão sulcado.

Então pendurou-se no laço do desespero

Partiu o pescoço na corda bamba da depressão

Foi embora relegando aos outros o cuidado que não teve

Com o próprio corpo, com a veste de morta,

Com um capricho último a si mesma.

Foi a única vez na tão prolongada existência morta

Em que não se sentiu completamente só.

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 19/12/2021
Código do texto: T7410617
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