encontro da tarde

Astréia criatura

Sua pureza me ofusca

Sua ingenuidade me cala

A languidez de seus olhos

Me recorda a lascívia

Seu cabelo escorrem

sobre a face a dentro

Corrompendo sua fisionomia

Um olho me evita,

outro olho me convida

Fico confusa.

Seu rigor semântico

Cobrem os fonemas

de tônicas

e oclusivas

Sua boca entreaberta

Parece soprar reticências sobre tudo

O infinito das sombras

da tarde

Tingem de rubor

o calor ressentido das palavras

Ao final nos cumprimentamos

Tacitamente

Seu olhar lambe o meu

E ceticamente me afasto

Quando em verdade

Queria grudar-me ao corpo

Morna sensação é bafejada pelo vento

Que frio quase provoca

um choque térmico

Envolvo-me com o casaco.

Abraço-me,

Rebusco-me, procurando

aquecer-me,

esquecer-me,

apagar-me do

cenário sombrio

A beleza pictórica circundante

Me faz girar num cêntrico

imperfeito

A busca de imagem,

da estética

As palavras dormem a madorna

Do meio-dia

Secas e famintas de ouvintes

Os poemas esses são nutridos

Secretamente tal como os pássaros

Que sobrevivem as piores

intempéries

Os poemas são cartas anônimas

de sobreviventes,

escritas por aqueles

que resgatam a eternidade

do esquecimento frugal

provocado pelo fim da tarde.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 14/11/2007
Código do texto: T737527
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.