encontro da tarde
Astréia criatura
Sua pureza me ofusca
Sua ingenuidade me cala
A languidez de seus olhos
Me recorda a lascívia
Seu cabelo escorrem
sobre a face a dentro
Corrompendo sua fisionomia
Um olho me evita,
outro olho me convida
Fico confusa.
Seu rigor semântico
Cobrem os fonemas
de tônicas
e oclusivas
Sua boca entreaberta
Parece soprar reticências sobre tudo
O infinito das sombras
da tarde
Tingem de rubor
o calor ressentido das palavras
Ao final nos cumprimentamos
Tacitamente
Seu olhar lambe o meu
E ceticamente me afasto
Quando em verdade
Queria grudar-me ao corpo
Morna sensação é bafejada pelo vento
Que frio quase provoca
um choque térmico
Envolvo-me com o casaco.
Abraço-me,
Rebusco-me, procurando
aquecer-me,
esquecer-me,
apagar-me do
cenário sombrio
A beleza pictórica circundante
Me faz girar num cêntrico
imperfeito
A busca de imagem,
da estética
As palavras dormem a madorna
Do meio-dia
Secas e famintas de ouvintes
Os poemas esses são nutridos
Secretamente tal como os pássaros
Que sobrevivem as piores
intempéries
Os poemas são cartas anônimas
de sobreviventes,
escritas por aqueles
que resgatam a eternidade
do esquecimento frugal
provocado pelo fim da tarde.