No tempo
No tempo
Eu hoje tive medo, mas não foi um medo comum.
Foi um destes que não se percebe até que venha
Sorrateiro à espreitar a lacuna indesejada do ser,
Que fica ali tentando entender a poeira entre
O facho de luz e a escuridão do quarto.
Eu hoje quase gritei expondo a angustia de mim,
Mas meu grito silencioso ecoa mais alto e mais longe
Na esperança de esse silêncio encontrar uma solução
Não perturbadora de uma mente já perturbada.
No lampejo de um sorriso que havia se escondido
Naquele vão entre a certeza e a dor, reconheci
A lágrima de um minuto a trás. Mas nesse sorriso
Espremido lateja a criança que fui.
Eu hoje me senti como um copo ou um recipiente
Que acolhe qualquer substância líquida que se molda
De acordo com o formato. Por fim hoje entendo
Os cinquenta verões pré-existentes na concepção infalível
Do descaso oriundo do egoísmo.
Sentindo-me tempo, flagelo o inconcebível flexibilizar
Das asas que batem sem alçar voo, contudo
Reitero meu pesar de indesejado ser esmagado na
Dilaceração do pesar constante.
Eu hoje sonhei que o caderno e a caneta eram meu peito
E a minha flecha.
Onde o peito é o caderno e a flecha é a caneta.
Fernando Brasil:. 14/08/2021