Transparência da negritude
Não saio à noite pra que não tenham a desculpa
de não terem me visto por causa da escuridão...
Pra achar pessoas boas, não precisa lupa:
basta abrir os olhos e o coração...
O meu jeito de ser e viver ñ’ agrada:
se incomodam com o comodismo que em mim há,
mas a inércia que demonstro é um nada
diante da tua... Abra os olhos e, enfim, verás...
Ser sincero quase nunca me dá prazer...
Minha sinceridade quase sempre é rude...
O problema é os outros fingirem não me ver,
devido à transparência da mi’a negritude...
Quase sempre, ser assim não me compensa;
imprevistos testam minha reação...
Sendo assim, aceito e cumpro minha sentença:
condenado a um matrimônio com a solidão...
As pessoas passam por mim
e parecem fingir que eu não existo...
... e, a cada pessoa que passa, caem lágrimas,
que já encheram baldes...
Sei: não sou perfeito, não sou santo;
mas também sei que eu não merecia isto...
Me sinto estranho... ‘Tô me sentindo um ninguém...