Lacunas.
Lá no lugar onde moro
Mar de luz de luar
Ar de coisa esquecida
Quero chorar, mas não choro
Céu de cristais, todo feito
Do jeito que a alma dá
Modo imperfeito, contido
Quero viver, vou vivendo
Eu procuro acalmar
Não, não há nada que prove
Só desperta quem tem roupas no varal
Se chove de madrugada
Sim, todo mundo é igual quando dói
Na lembrança que o vento traz
No silêncio que faz, se a ferrugem rói
Longe, perto, perfeito
Meio que incerto
Acerca de todas as certezas
Uma só
Assim como um só, cercado
Assim como estrelas distantes
Nos parecem brilhar todas juntas
Não há nada que as separe
Nem as una a luz do sol
Se espalhe em claridades ardentes
E preencha essas lacunas
Bem maiores que as dores mundanas
Imensas e impossíveis
Mar de luz de luar
Vem encher com tua graça
O pedaço de terra onde a vida passa.
Edson Ricardo Paiva.