Vazio

Um dia achei que era inteiro,

cuja vida foi fragmentando,

chegando à metade de mim,

meio cheio, meio vazio,

mas o destino é implacável,

agora sou apenas vazio,

fazendo eco em mim mesmo,

no silêncio de sussurros mudos,

no desespero de lágrimas secas,

na infinidade de uma noite sem estrelas,

no frio das ruas após a chuva da meia-noite,

por onde minha alma vaga vira-lata sem rumo,

buscando respostas que nunca virão,

para questões malditas e sufocadas,

no vazio que me abriga,

na melancolia que me conduz,

no fio da navalha que me reparte,

cicatriz sem cura que esvai meu sangue,

tinta vermelha para uma tela em branco,

já não sinto mais nada, nem respiro,

meu olhar está perdido,

sou o que sou,

perdido,

vazio,

morte,

um anjo de asas negras como o universo,

agachado em um sepulcro sem ossos,

na amnésia do passado,

arranhando o concreto,

porque nada mais faz sentido,

nem eu...