Reserva de delírios
A rua brilha sobre essa garoa mansa e vejo siluétas e intenções,
O céu derrama choros como rios que vão escorrendo tristes sobre telhas e bueiros,
O silêncio e as goteiras apagam os ecos de murmúrios e despedidas,
Agora busco o sol como em outros tempos porque estou cheio de dúvidas mortas,
Levanto espantado sabendo que meu passado estéril ficou ali, entre quadros e almanaques,
Já não existem carências nem aquele antigo medo real que quasse doía, compreendo a duras penas que é impossível viver sempre de ranço e de rancor,
Encontrei na minha reserva de delírios outros sonhos resucitados, flamantes ásperos e contínuos,
Organizei meu horizonte nesse último exílio, sem chorar o tempo, limpando vaidades.