POEMA EXTRAVIADO
Quando um poema se extravia
fico perdido, náufrago solitário;
é como se a mãe dele, a poesia,
me entregasse seu obituário...
Procuro palavras e não encontro,
sequer uma sílaba abandonada;
ouço um sussurro dizer - pronto!,
comece de novo, não foi nada...
Mal sabe o quanto perdi,
o quanto de seiva nos versos;
não mais verei o que vi,
o tanto quanto estive imerso...
É como um filho que se foi
para uma missão no Haiti;
de longe só acena, diz oi,
uma saudade que nunca senti...
Toco a caneta e o fogo volta
e acende meu doído coração;
digo a mim, pouco importa,
trabalho com amor a inspiração...