AFETOS
os dias parecem uma interminável noite
chove lá fora e sangra aqui dentro
já não se vê os trilhos
cada passo enfrenta a solidão de uma cigarra
o corpo se retrai e sem sorrisos pula a ponte e abismos
insondáveis pensamentos cercam as madrugadas
cada brado ensina ao mundo uma dor
toda magnificência do colibri coincide com a aurora
os olhos parecem um deserto incolor
asas foram cortadas e o fogo as queimou
as cores são ameaçadamente selecionadas
a sociedade é certeira na malandragem
frutos e desafetos são vistos lado a lado
sementes são plantadas ao final do arco-íris
os sonhos são a gosto
vozes dizem
sinto muito
sinto isso
sinto só
sinto