Entardecendo

Quando caiu a tarde

o sol vermelho

também caiu dentro de mim

inundando minha alma fria

de recordações

e nos laivos violetas do céu

caminhavam suspiros incontidos

havia reticências vagas

pontilhadas por milhões de vagalumes

perpetuados numa treva medieval

E sob a abóbada celeste

a tarde morta

jazia dentro do cristalino

o dia acabou

passou tão impunemente

que não senti

não lhe dirigi palavras

e nem o peso da gravidade,

da penumbra e

da neblina

que me furtava as imagens

e as sensações

na linha retrospectiva

só havia parcas reminiscências

assim dormentes sob a retina

como um carinho leve sobre a face,

feito pela brisa

sobre a mão

de seda que acariciava

o frio veludo

áspero e rebelde da mente

quando finalmente

veio o véu negro da noite

o brilho da noite

ainda me parecia enigmático

perguntava-me sobre a vida

e, eu silenciosa respondia

com meu simples contemplar

eu era mais um reles animal

sobre a Terra

encantado com a vida

e preocupada com a morte,

com imensa finitude das coisas

o que me deixava

desoladamente feliz e triste

num só momento.

Eu estava apenas me entardecendo.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 08/11/2007
Código do texto: T729142
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