Entardecendo
Quando caiu a tarde
o sol vermelho
também caiu dentro de mim
inundando minha alma fria
de recordações
e nos laivos violetas do céu
caminhavam suspiros incontidos
havia reticências vagas
pontilhadas por milhões de vagalumes
perpetuados numa treva medieval
E sob a abóbada celeste
a tarde morta
jazia dentro do cristalino
o dia acabou
passou tão impunemente
que não senti
não lhe dirigi palavras
e nem o peso da gravidade,
da penumbra e
da neblina
que me furtava as imagens
e as sensações
na linha retrospectiva
só havia parcas reminiscências
assim dormentes sob a retina
como um carinho leve sobre a face,
feito pela brisa
sobre a mão
de seda que acariciava
o frio veludo
áspero e rebelde da mente
quando finalmente
veio o véu negro da noite
o brilho da noite
ainda me parecia enigmático
perguntava-me sobre a vida
e, eu silenciosa respondia
com meu simples contemplar
eu era mais um reles animal
sobre a Terra
encantado com a vida
e preocupada com a morte,
com imensa finitude das coisas
o que me deixava
desoladamente feliz e triste
num só momento.
Eu estava apenas me entardecendo.