Alma à Esmo
Vagante, me encontro, sem rumo
Sem terra, oceano, ou cėu estrelado
Que me valha de caminho e direção
À esmo, errante, tenho navegado
Meus pés desconhecem o chão
Há muito desisti do prumo.
Laços desfiz, afetos não tenho
Perigos vivi, vários, sem conta
Muito chorei, mais ainda fiz chorar
Riquezas amealhei de valiosa monta
Conheci bem a sorte, muito mais o azar
Da morte contemplei terrível cenho
Venci batalhas, perdi guerras
Sofri muitas dores, causei outras tantas
Descí ao mais baixo, subi ao mais alto
Palavras falei, profanas e santas
Do céu e do inferno fiz-me arauto
Fui escravo e senhor em remotas terras
Por tudo isso e muito mais
Digo com toda a certeza
Que com o tempo advém
Não sou da plebe nem da nobreza
Rico ou pobre, não sou também
Erro, vida afora, sem pares ou iguais.