Tributo
Outro corredor, vazio
escuro, seco, morto
carregado de algum luto de outrora
manchado de novo pelo peso do agora
revirado, de ponta a ponta
remexido sem paixão ou empatia
amarrado à um ritmo que não encanta
escondido sob uma sombra de outro dia
minha bússola de ouro,
agora cinza como eu
não me aponta mais tesouro,
até o ponteiro se perdeu
nada se vê, muito se ouve
os sons de uma guerra, os gritos, o marchar
passos pesados, alvoroços, agonias
quanto tempo tenho até eu acordar?
já sem fôlego, questiono
o que se passa la fora?
com grande escárnio me respondo
talvez já seja a minha hora
pois o vazio aqui de dentro
que antes só me trazia paz
já está ficando violento
de maneira que não o reconheço mais
e já com a água nos joelhos
desço mais um degrau, lutando pra ficar de pé
mas a corrente não espera, transborda até em cima
me afogando como quem testa minha fé
para me fazer deixar nas águas, um sonho
que já nem me lembro mais qual é