Tributo

Outro corredor, vazio

escuro, seco, morto

carregado de algum luto de outrora

manchado de novo pelo peso do agora

revirado, de ponta a ponta

remexido sem paixão ou empatia

amarrado à um ritmo que não encanta

escondido sob uma sombra de outro dia

minha bússola de ouro,

agora cinza como eu

não me aponta mais tesouro,

até o ponteiro se perdeu

nada se vê, muito se ouve

os sons de uma guerra, os gritos, o marchar

passos pesados, alvoroços, agonias

quanto tempo tenho até eu acordar?

já sem fôlego, questiono

o que se passa la fora?

com grande escárnio me respondo

talvez já seja a minha hora

pois o vazio aqui de dentro

que antes só me trazia paz

já está ficando violento

de maneira que não o reconheço mais

e já com a água nos joelhos

desço mais um degrau, lutando pra ficar de pé

mas a corrente não espera, transborda até em cima

me afogando como quem testa minha fé

para me fazer deixar nas águas, um sonho

que já nem me lembro mais qual é

Um Boldo
Enviado por Um Boldo em 11/06/2021
Código do texto: T7276144
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