passagem

É penumbra

É nódoa

É bruma

Orvalhos distraídos

umedecem a flor

Há uma primavera esquecida

em algum lugar.

É a mancha indecifrável

Onde enxergamos mil formas

Ora uma borboleta,

Um baú repleto de tesouros,

Araras no cio

Gralhas pousadas à margem.

da lagoa improvável

É tanta angústia

Essa lágrima engolida

Mais uma vez a mágoa intragável

Meu peito varado e varrido

De dores e ressentimentos

Tantas respostas sem perguntas

Tantas perguntas sem respostas

Reticências desesperadas saltam no abismo

Das comoções

E mais uma vez, eu mesmo

A mirar no fuzilamento

Ao enfileirar a tropa

Que marcha em direção da guerra invisível

Enquanto

hipócritas senhores fingem fidalguia

Os demais fingem elegância e maestria

Ao cuspir no mundo suas mentiras e

Arrogância

E, tudo é penumbra,

É névoa depois da nuvem,

É chuva sobre os olhos

que renegam as lágrimas

mas se deixam molhar em vão.

O movimento da penumbra é mistério

O movimento irrequieto é sombra

Projeta tudo e, ao mesmo tempo, não é nada

Ou quase-nada

É intangível

Pressentimento ruim

Dores latejam por dentro

Um grito que não dei.

A mão espalma socorro

Os ossos retorcem-se de frio

E meus óculos se cansam de minha retina

Reta e inútil.

Imagem distante

Imagem remanescente

Imagem que é miragem

Ou lembrança

Uma vaga idéia,

Uma vaga do mar

Um lugar vago

em meio a multidão

repleta de ausências.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 07/11/2007
Reeditado em 07/11/2007
Código do texto: T726574
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