passagem
É penumbra
É nódoa
É bruma
Orvalhos distraídos
umedecem a flor
Há uma primavera esquecida
em algum lugar.
É a mancha indecifrável
Onde enxergamos mil formas
Ora uma borboleta,
Um baú repleto de tesouros,
Araras no cio
Gralhas pousadas à margem.
da lagoa improvável
É tanta angústia
Essa lágrima engolida
Mais uma vez a mágoa intragável
Meu peito varado e varrido
De dores e ressentimentos
Tantas respostas sem perguntas
Tantas perguntas sem respostas
Reticências desesperadas saltam no abismo
Das comoções
E mais uma vez, eu mesmo
A mirar no fuzilamento
Ao enfileirar a tropa
Que marcha em direção da guerra invisível
Enquanto
hipócritas senhores fingem fidalguia
Os demais fingem elegância e maestria
Ao cuspir no mundo suas mentiras e
Arrogância
E, tudo é penumbra,
É névoa depois da nuvem,
É chuva sobre os olhos
que renegam as lágrimas
mas se deixam molhar em vão.
O movimento da penumbra é mistério
O movimento irrequieto é sombra
Projeta tudo e, ao mesmo tempo, não é nada
Ou quase-nada
É intangível
Pressentimento ruim
Dores latejam por dentro
Um grito que não dei.
A mão espalma socorro
Os ossos retorcem-se de frio
E meus óculos se cansam de minha retina
Reta e inútil.
Imagem distante
Imagem remanescente
Imagem que é miragem
Ou lembrança
Uma vaga idéia,
Uma vaga do mar
Um lugar vago
em meio a multidão
repleta de ausências.