Culto ao silêncio.

Plantei-me uma semente de silêncio

Em meio a uma floresta

De outros pés de sons intensos

O silêncio, que era bom, vingou

Germinou como quem nasce

Se plantado em lua crescente

Desde então, esse só cresce

Incessante, insistente

Chega até dar medo

O outro nome que a isso se empresta

é pé de segredo

O silêncio, se é que eu sei

Não tem nenhum compromisso

Não tem lugar onde chegar, nem idade

Pois desobedece o tempo

É uma planta temporã, sem lei

Pode ser que, se plantada de manhã

Se agigante

Pode ser que se atrase

Talvez pareça até ter fases

Da lua, pra que cresça

O nome disso é verdade

Pode parecer que sim

Pode parecer que quase

Mas no fim

Um dia, numa madrugada fria

Quando todo mundo

Tá incauto e dormindo

O silêncio dá seus frutos: imbróglios

São tantos

Que os outros dez mil sons se calam

Fingem mudos, se embalam

Olhos astutos, mudos lábios

Mono silêncio, uníssono

É quando esse som grita até

Chega a ser bonito de se ver

E não se ouvir.

Edson Ricardo Paiva