Sina
Por que minhas mãos não acariciam com suavidade?
Por que meus braços não envolvem com largueza?
Por que meus olhos não vertem lágrimas na claridade?
Por que meu nariz não atrai o olor de tua pureza?
Por que meus dedos não se entrelaçam aos teus?
Por que meus cabelos não desarmam com teu vento?
Por que meus pulsos não latejam como os dos plebeus?
Por que meus ombros não se recostam a ti, num acalento?
Por que minha boca não se fecha como as feridas?
Por que minha língua não refreia sua má índole?
Por que meus lábios não procuram as bebidas?
Por que minha garganta não ressoa como um fole?
Por que minha vontade não procura teu desejo?
Por que só penso em você como o não-meu?
Por que evito te encontrar, mesmo de lampejo?
Por que, diante de ti, todo meu eu emudeceu?
Por que precisa ser assim rude?
Por que sentir sem se expressar?
Por que viver a fingir amiúde?
Por que não me permitir te amar?