Longe de tudo, perto de mim
Sinos tocam ao longe,
Ecos distantes, cidade calada.
Vento bate em janelas e portas.
Na solidão de mim é que me encontro.
É preciso estar só para se encontrar.
E quão pacífico consigo ser neste momento.
Tenho saudade de algo que desconheço.
Sinto, mas efetivamente não consigo ver.
O coração não pulsa no peito,
Mas resolveu visitar a alma.
E neste momento de serenidade,
Me transporto para o alto de montanhas,
E de lá pareço observar planícies distantes.
Não existe um tempo mensurável,
Mas parece ser um encontro
Entre a madrugada e aurora.
Como que posso ser tão distante?
E ainda assim ser próximo a mim.
É algo de leve, a alma flutua,
Como que a mergulhar num Todo.
E ser então se mistura entre
O finito e o infinito.
Entre o limitado e o ilimitado.
Entre o efêmero e o eterno.
Entre uma sensação de absoluta certeza,
E um cético questionamento,
Que tudo é dúvida.
E como se fosse possível,
Vejo o coração a rir do cérebro,
Como no seu pulsar houvesse toda juventude,
A confrontar com a senilidade cerebral.
De modo, que força e fraqueza comungam.
E então surge uma fé que se aquece em dúvida,
Mas se faz oração que dá sentido a razão.
E a razão não entende,
Mas os ouvidos atentos,
Colhem fragmentos ocultos no silêncio.
E sinto a tudo ignorar,
E a um só momento compreender.
Para então me reencontrar,
Fazer ponto de uma reta infinita,
Sem polos a direita ou a esquerda,
Apenas uma reta sem começo e fim,
E retorna a ser ponto
Que se verte em raio
A traçar circunferência,
E nela vejo uma superfície,
Que desaparece
Para dar lugar a um portal
Para as estrelas, e estas falam,
E então comungo com o seu falar,
E lembro-me que só os poetas,
Conseguem ouvir estrelas.
E extasiado retorno ao ponto que sou.
01/05/2021