A mulher na soleira
Deitada estava
No chão, na rua
Tinha a alma nua
E uma nostalgia.
Era cheiro de urina
Tinha voz de abandono
Era frio de outono
Ela já pressentia.
Já não contava
Quantos abusos
Ou quantos roncos e uivos
Seu estômago fazia.
Seu passado incógnita
Seu porte altivo
Não continha o alívio
Da meritocracia.
Ela era silêncio
Era um grande mistério
Evaporou sem critério
Ninguém sabe o dia.