Areia.

O tempo que te faz pensar

No tempo que te resta, pra poder pensar

Pensar naquilo que te faz doer

Que te faz, de vez em quando, ver

Na paz que nos traz a cegueira

À hora costumeira, quando a vista falha

Que se enxerga de tudo ao avesso

Que se faz de cego a tropeçar nas tralhas

O tempo que te faz seguir a própria trilha

Compreender que há um preço a se pagar por tudo

Desde as pétalas aveludadas

Da rosa, cujo tempo há de fazer em espinho

A laje pesada de pedra moída

A lousa apagada, o senhor da razão que a escreveu

Mãe de todas as virtudes

O ninho, o caminho, a alegria e a vida

A areia da praia, que a gente sonhou pisar

Sozinhos, de mãos dadas, cada qual a seu tempo

Um sonho a se sonhar

Quando um beija-flor te fala, só de vê-lo

Batendo-te as asas

Te chamando a partilhar o mesmo teto

A mesma casa

Um repetitivo e eterno som que vem de perto

Olhando ao redor, é deserto...é tão longe

Na vida, quem pode te mostrar o errado ou certo?

O tempo que passa, que corre e morre junto

À graça da vida

Grata, ingrata vida

Que tanto um dia pediu

Pra ser assim, por igual dividida

E ela foi, porém...pra mal.

Edson Ricardo Paiva.