velho cão

meu velho cão

tem quase vinte anos

era inteligente

e, hoje está senil

era lépido

agora está lerdo,

quase trôpego

um dia destes,

se perdeu em seu

próprio quintal

seu pêlo está caindo

seus olhos fogem da luz intensa

e, seus ouvidos

fracos apenas intuem

sobre os ecos havidos

meu velho cão

em meio ao monte de areia

está sujo

não me conformo.

vou lá, dou-lhe um banho

e fico com remorso

pois cansei o pobre cão

que dorme agora profundamente

ressona o sono dos justos

meu velho cão

é meu amigo fiel

leal e único

nunca encontrei tanta doçura num

só olhar

nunca encontrei a exatidão do encontro

quando exatamente me recebia

lânguido e faceiro,

eu vinha cansada das aulas,

das lidas, do stress diário

e, ele me renovava as forças

gostava de brincar de bolinha,

puxava minha roupa,

roubava minha atenção

de sobre o peso do mundo

que gira sem parar

quando ele se for,

ainda assim será esse meu amigo

sua amizade está registrada para sempre,

até quando eu também me for

e, então caminharemos juntos

pelos caminhos infinitos,

atrás dos potes de ouro

no fim do arco-iris

quando eu me for,

não haverá distinção

entre ser racional e irracional

entre ser gente ou ser cachorro

seremos amigos irmanados na

paixão de uma parceria

parceria de uma vida inteira

seremos amigos

inspirados na proeza de

comungarmos secretamente

muitos momentos únicos

de contemplação e compreensão

senhor, sei que tens muitos

por quem olhar...

mas eu lhe rogo

dê um espiadinha

aqui para baixo

pra esse meu amigo

permita que ele parta sem dor

pois somos afinal

todos filhos de deus.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 03/11/2007
Código do texto: T722357
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