Sempre Sozinho
O morto na cova adormecido
Seus lábios roxos
Sua pele cinza
Recebe terra nos seus ouvidos
O choro longe de outro desconhecido
As flores brancas
O cheiro pálido
Até que um dia todos tenham morrido
Nascera ontem e comia o pão amanhecido
A toalha de renda
A fruta na mesa
A melhor vida que alguém pudesse ter vivido
Um dia a mais é um dia a menos já sofrido
A condução
O dinheiro pouco
Da janela do ônibus nas calçadas os mendigos
Sua alma sofre sozinha no seu abrigo
Um colchão rasgado
Uma garrafa de água
Não lembrava de ontem o que houvera comido
Mas lá estava ele deitado querendo gritar
As flores no peito
Alguém de preto
Uma mulher com lenço querendo chorar
E assim foi fechando a cortina do tempo
Tudo acabado
Seu corpo deixado
E cada um foi pro seu lado viver seu bocado
Restou o vento balançando as folhas
O passarinho que passa
A folha que cai
E o tempo vai passando,e ninguém lembra mais.