Afasta-te.
(Uma milonga pra quando você for embora).

A impossibilidade
da improbabilidade.
É você.

Tudo fica impossível
quando você
me parte em vários cacos.

É impossível ser ativo
quando você se afasta.
E faz com que eu corra
contra mim,
contra o muro que você me projeta.

Sou bem mais alto que esses prédios.
E ainda sim, me sinto insuficiente em tudo.

Sempre abaixo do nível do mar.

Me torno frequente em teus traços.
Te transformo em vinho do porto e bagaços.
É improvável sua chegada, quem dirá saída.
É inigualável sua alma com a minha.

Você,
uma santa.
Eu,
a impossibilidade de te trazer pro meu mundo.

Você se afasta,
de longe oblíquo.
Você se afasta,
em poucos dias some.
Em poucos minutos me temo,
acho que tenho medo.

Fiz mantras pra me confortar.
Fiz preces pra serem ouvidas.
Indaguei e roguei cordéis.

Você se afasta.
Como bem fez, como bem quis.
Como mal me quer.
Como bem me quer.
Como não sei mais o que quero.

Já cansei de contar quantos perdi.
Por força do azar. Seja da jaula que eu sai, me tornei carrancudo.
Arranhei o chão. Nunca colhi tais frutos.

Recíproco e precipício
andam juntos e são amigos.

Eu moro no inevitável.
Por vezes, sou desagradável.
Mas não deixo de falar o que penso,
não me engasgo.
Imprevisível. Sem traços.

Sou um camelo,
marcado pelo tempo árido
e pelo sol em meus ombros largos.

E todo mundo vai embora
pelo mesmo motivo que nunca me contaram.
Simplesmente vão embora
e deixam o relógio marcando todo o tempo a hora.

Hora de se afastar,
hora de ir embora.
Hora de despertar o que adormece.
Hora de se atrasar pra escola.

Da obra: Sarda&Mostardas.

Onde me encontrar;
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