Eclipse
Noite diurna sem ter chuva.
Exalava perfume agridoce de melancolia.
Sem presença alguma, era só
Somente havia sua voz.
Àquela altura já não havia muito.
Todos os dias deixava para trás
O caminho, a memória, a vida:
Suas lembranças destituídas.
Não poderia mais se perder na imensidão,
Sabia que não saberia como retornar...
À sua maneira estranha, aos seus trejeitos,
Aos ditos, aos dizeres, ao dizer – ao fazer.
Perder-se-ia distante da sua história.
Não há lembrança. Não há memória.
Não há fim. Não há começo. Não há.
Resta tão pouco de sua antiga construção.
Quem se tornou essa pessoa agora?
Tornou-se frágil, esquecido, remoído.
– Tornei-me o que sempre temi:
Um resquício de mim.
O sol poente – que irradiava sem direção
Perde-se solavanco em turbilhões.
São suas emoções estéreis que o perdem
Sou quem sou porque fui capaz de esquecer.
Esqueci minha infância.
Esqueci minha adolescência.
Tenho esquecido da vida adulta.
Esqueço da juventude todos os dias.
Perco para o tempo – perco para mim.
Meus amores, meus amigos, meus afetos:
Subjugados pelo eclipse de minha existência.
Não há sol. Não há luz. Não há coisa alguma.
As sombras perpetuam a matéria inata.
Meu corpo se perde na imensidão de mim.
Minhas dores são concretas e reais – mais
Mais do que eu jamais fui.
Me perco enquanto escrevo.
Apagado, desnutrido e frígido.
Sou luz sem brilho algum,
Lusco-fusco do meu fim.
Sou tolo! Ri de mim, pois resta pouco.
Eclipse
Noite diurna sem ter chuva.
Exalava perfume agridoce de melancolia.
Sem presença alguma, era só
Somente havia sua voz.
Àquela altura já não havia muito.
Todos os dias deixava para trás
O caminho, a memória, a vida:
Suas lembranças destituídas.
Não poderia mais se perder na imensidão,
Sabia que não saberia como retornar...
À sua maneira estranha, aos seus trejeitos,
Aos ditos, aos dizeres, ao dizer – ao fazer.
Perder-se-ia distante da sua história.
Não há lembrança. Não há memória.
Não há fim. Não há começo. Não há.
Resta tão pouco de sua antiga construção.
Quem se tornou essa pessoa agora?
Tornou-se frágil, esquecido, remoído.
– Tornei-me o que sempre temi:
Um resquício de mim.
O sol poente – que irradiava sem direção
Perde-se solavanco em turbilhões.
São suas emoções estéreis que o perdem
Sou quem sou porque fui capaz de esquecer.
Esqueci minha infância.
Esqueci minha adolescência.
Tenho esquecido da vida adulta.
Esqueço da juventude todos os dias.
Perco para o tempo – perco para mim.
Meus amores, meus amigos, meus afetos:
Subjugados pelo eclipse de minha existência.
Não há sol. Não há luz. Não há coisa alguma.
As sombras perpetuam a matéria inata.
Meu corpo se perde na imensidão de mim.
Minhas dores são concretas e reais – mais
Mais do que eu jamais fui.
Me perco enquanto escrevo.
Apagado, desnutrido e frígido.
Sou luz sem brilho algum,
Lusco-fusco do meu fim.
Sou tolo! Ri de mim, pois resta pouco.