NAUFRÁGO

Perdi meu norte

Minha bússola quebrou

O farol se apagou

E minha embarcação ruiu

Há furos por todo o casco

Aos poucos vejo o minar da água

Silenciosa

Encobrir lentamente os meus pés

A noite está ensurdecedoramente calma

Sinto a brisa fria me abraçar

Em uma forma mórbida de consolo

As estrelas esconderam de mim o rosto

E a lua virou-me as costas

Já não vejo mais a luz no fim do túnel

Tudo está nebuloso

Um grito desesperado serra-me a garganta

Impedindo-me de mover as palavras

A sombra do medo avança sobre as águas

Não enxergo o cais

Nem mesmo vislumbro o porto

O qual diziam-me ser tão seguro

Ouço apenas um sussurrar

Quase palpável

Do vento

Dizendo-me que que tudo ficará bem

Mesmo que do outro lado

Não haja um amanhecer

Meus olhos cansados

Já não dormem

Desconheço o significado de descansar

Meus sentidos pregam-me peças horrendas

Sinto-me terrivelmente só

Afogando-me em desesperança

Sinto-me pesadamente vazio

Náufrago em um mar abarrotado

De certezas incertas

As quais não são capazes de me salvar.

Xícaras de Prosa
Enviado por Xícaras de Prosa em 24/11/2020
Reeditado em 05/04/2021
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