NAUFRÁGO
Perdi meu norte
Minha bússola quebrou
O farol se apagou
E minha embarcação ruiu
Há furos por todo o casco
Aos poucos vejo o minar da água
Silenciosa
Encobrir lentamente os meus pés
A noite está ensurdecedoramente calma
Sinto a brisa fria me abraçar
Em uma forma mórbida de consolo
As estrelas esconderam de mim o rosto
E a lua virou-me as costas
Já não vejo mais a luz no fim do túnel
Tudo está nebuloso
Um grito desesperado serra-me a garganta
Impedindo-me de mover as palavras
A sombra do medo avança sobre as águas
Não enxergo o cais
Nem mesmo vislumbro o porto
O qual diziam-me ser tão seguro
Ouço apenas um sussurrar
Quase palpável
Do vento
Dizendo-me que que tudo ficará bem
Mesmo que do outro lado
Não haja um amanhecer
Meus olhos cansados
Já não dormem
Desconheço o significado de descansar
Meus sentidos pregam-me peças horrendas
Sinto-me terrivelmente só
Afogando-me em desesperança
Sinto-me pesadamente vazio
Náufrago em um mar abarrotado
De certezas incertas
As quais não são capazes de me salvar.