Não passa
Passam das tantas da madrugada, e a dor no meu peito não passa... Já passei gel massageador, gelo, pomada, cigarro, e o esforço nem porre nenhum resolve.
Lá fora chove, e um sentimento de desespero me envolve dos pés à cabeça. Talvez eu enlouqueça neste momento, quebre o espelho, me jogue do apartamento, corte o cabelo, os pulsos, ou apenas acorde a vizinhança num impulso de gritar teu nome...
Estou triste. Não por eu estar insone.
Nem por algum motivo insano, infame... estou triste porque não... porque... esqueça: não há razão!
Nem a fome fomenta tanto a minha tristeza, minha melancolia, quanto…
A saudade...
A solidão insiste em me fazer companhia... mas eu quero ficar só, por enquanto...
Só com minha dor, com meu embaraço, com minha poe... agonia... com meus cigarros e incertezas! Só uma presença me interessaria... e esta é minha única... esqueça! Com certeza também curaria o clichê do meu coração.Todavia...
No descompasso desta noite fria, olho pra pia, pros pratos, pras teias no telhado, pros discos de Gil, arranhados de tanto ouvi-los e pros romances de Jorge Amado, só não olho pro relógio, mas sim, minha amada, as horas passam depressa como uma carreta levantando poeira, se dissipando como cinzas, e me consumindo mais vorazmente que as chamas que queimam a mata; as horas passam, eu não as noto: estou muito melancólico para reparar no tempo, nem no meu espaço vazio. Não tenho mais pressa nem contentamento em dormir ou acordar cedo. Já não sei que horas são! Já nem sei se estou mesmo vivendo ou apenas sendo uma programação... Nem preciso sabê-lo! Já não me importa mais... O mundo da Internet, em algum momento de distração, me oferece seu placebo, e eu me percebo, inerte, rindo em desgraça com os memes do face, com minha face sem graça…
Já são quatro da madrugada
No entanto, no abismo do coração, o tempo não passa!
Tampouco a dor, na solidão do meu quarto...
Sabe, Gil, eu também preciso aprender a só ser...