Liberdade
Distante de tudo,
E estranhamente próximo de mim.
Nada a ver com ego ou arrogância,
Mas antes em sendo ínfimo ter algo de grandeza.
Nada de desprezo, nada de impaciência,
Mas antes o zelo com a própria resignação.
Em que pese a tudo parecer entender,
É num secreto ignorar que parece estar a paz.
Nem um gesto ríspido, nem um grito embargado,
Apenas um silêncio que visita a quietude do coração.
Vozes distantes, intuições perdidas, migalhas de horas,
Sempre haverá tempo para não ter tempo.
E ainda que veja graça em todo afeto sincero,
Não há como não reconhecer o domínio da estupidez.
Quantas letras já escritas, quantas palavras já ditas,
Mas é na quietude que parece estar as respostas.
Mas por que tantas respostas?
Aliás, por que tantas dúvidas?
Por que é no tormento que surge a ânsia de paz?
É preciso ser distante para estar próximo,
Pois que o caminho não é uma estrada de terra,
Mas uma trilha oculta que só encontra quem se perde.
E então brincar de estar perdido,
Apenas por ter encontrado tanto.
E então as respostas incomodam,
E as dúvidas mantém vivas as esperanças.
O passado será cada presente póstumo,
E futuro será um póstumo que está por vir.
E então brinco neste dedilhar das cordas das horas,
E as horas fingem não me ver,
E eu oculto em milésimo de minuto,
Também as esqueço,
Para ser livre do tempo.
Livre do espaço,
Livre, utopicamente, livre!
31102020