Pensamentos do Outono da Vida
Feliz daquele que conhece a solidão da própria consciência,
Não é a felicidade do mundo, mas transcendência de ser.
Pois que ser é ir além de estar simplesmente vivo,
É encontrar significado maior. Ilusório ou não?
Por que tanta preocupação se nos propõe virtude?
Ora, mas o que importa a virtude em mundo utilitário?
Que valor tem no cotidiano tangível das coisas?
Em nossa demência congênita alimentamos a arrogância.
Em rituais de superficialidades alimentamos egos primitivos.
Valemos pelo que temos e não pelo que somos.
E aí daquele que ir contra a ilusão coletiva das verdades prontas.
Longe se que buscar verdades, apenas valem os argumentos.
A hipocrisia alimenta os politicamente corretos e os estúpidos.
Não são filiados à reflexão, mas aos seus catecismos ideológicos.
Nunca serão livres, pois se supõem libertos da alienação dos outros,
Mas não conseguem ver a própria alienação que se fazem mergulhados.
Gritam por justiça, mas não pretendem serem justos,
Mas apenas inflar o conjunto de interesses que os justificam.
Nascemos para ser felizes, mas qual é o caminho da felicidade?
Como se pode atingir um alvo, se não sabe o que é buscado?
Falso objetivo esculpido em pedra inspirado pelas próprias intenções.
A felicidade não tem dono, ela é liberta,
A liberdade não tem como ser absoluta,
Será sempre relativa, sina do ego destinado a ser gregário.
A tristeza pode não ser triste,
Mas pode ser tão intensa que se transforma em copo de fel.
E então ao pensar encontrar a doçura encontra a amargura.
E ser amargo é pedagógico para produzir a desilusão,
Em desiludido haveremos de buscar ampliar a razão,
Para então descobrir o desencanto.
E por estranho que parece ao encontrá-los,
Algo de honesta verdade que nos esbofeteia a face
E nos faz sentir que o tempo meramente ilude,
Que somos meras dúvidas mergulhadas em certezas inócuas.
Como loucos atores, tomamos o personagem como realidade.
A encenação como realidade total,
Quando não é mais do que mera bruma,
Neblina a cobrir os olhos.
E então, casulo de ser, lagarta criada do pó a terra,
Havermos de ter asas para nascermos para o ar do céu.
03102020