Fragmentos de minha geração
Tempo de uma geração,
Sinto a brindar o tempo que passa.
Sou cada vez mais póstumo.
E isto não me faz triste ou amargo,
Pelo contrário parece me dar algum sentido.
Neste momento não comungo com a eternidade,
Mas heroicamente tento esgotar meu propósito finito.
Pois que por que haveria de querer tanto futuro?
O sentimento é que algo ígneo aquece o coração,
Aliado a uma brisa fria que alimenta a razão.
E deste confluir de frio e calor,
minha tempestade tropical,
Que após relampejar e cair em água torrencial,
Se converte numa suave chuva.
E no corpo envelhecido,
Parece despertar um velho espírito.
Quão distante posso ser de mim,
Quão próximo posso estar
do que oculto que está em mim.
Passado, presente e futuro,
Todos tão próximos, unidos num portal invisível.
E toda a loucura parece estar justamente na lucidez.
Pois que ao ver além tudo parece diminuir em sentido.
E ainda que sabendo encenar o meu roteiro,
Meu delírio ganha asas e atinge lugares distantes.
Eis que ali pareço estar em casa, mas não quero estar.
Exausto de ser, o nada parece atraente em paz.
E descubro que para atingir o Todo,
Há que ser ínfimo, e então
Brinco com dualismos dialéticos,
Para despir-me da ilusão do tempo.
E caminho por relativos que parecem reais.
E então meu ermitão
encontra seu companheiro silêncio,
E no calar, não encontro resposta,
Mas também nada pergunto.
Pois que apenas sou
E neste momento
Isto parece me bastar.
26092020