Amor e Dor
A dor, para ser doída, necessita do amor
Para lhe ensinar as rimas do choro
E a metáfora dos frêmitos e das lágrimas
nos versos enviesados, vesgos, sem ritmo,
Cheio de nódoas e cheiro de tabaco vagabundo.
A dor, o amor e suas rimas tortas,
Orvalhadas do teu aroma sedutor
Nas manhãs de mortal solidão e tédio
Envoltas em ténue manto de tua saudade,
Que é o ópio da minha alucinação,
Que é a razão da minha diáfana lucidez.
Em algum lugar por ai - dizem os sábios
- O amor é uma coisa resplandecente.
Em algum lugar por aí, meu amor!
Mas você estará solitária hoje à noite,
Olhando através dos olhos do amor,
Hoje à noite, amanhã e ontem,
E a solidão depurará a sua agonia.
Algo em seus olhos brilham e miram
Algum lugar do passado ou do futuro.
Mas o que é o futuro senão hoje?
Que é o ontem senão o hoje?
Que é o hoje senão o princípio
E o fim de todas as glórias?
O desalento soturno da solidão destrava
A tampa da garrafa de náufrago em mar revolto
Revolta em fel dissolvido no cerume do mel
Da abelha rainha perdida nas profundezas
Do amor, solvendo-se nas espumas da saudade e
Da solidão metálica e afiada como lâmina de aço
Que rasga meu peito e sangra meu coração.