Nas pautas da solidão


Vou girar em torno do amor;
em cada fita procurar o beijo.
Pelas cores, o rubor do pejo.
Em volta da cintura o braço.
Vou girar, na mulher,
na palavra, a quem me ofertar,
dedicar, dedilhar meu rosto,
receber e dar,
dividir as metades partidas
daqueles fins de tarde, quando...
Quando irrompeu-se na vigília,
na janela perdida do olhar, no canto,
uma gota, apenas um pingo,
um festim de dores, chamado lágrima.
Vou querer sorrir
desenhando em bocas, a minha.
Em corpos meu tato descobrirá
todos, todos segredos da retenção,
da prisão eterna sem despedidas,
das loucuras soltas, despidas,
feitas, aflitas pelas ilusões.
Vou, sei que vou
navegar neste mar turbulento,
insensível, absorto, dando o que tenho,
embora sabendo que tudo é fictício,
que há muito perdi a noção,
o hábito de fazer e obter carícias,
vagando em ondas de cabelos,
perfumando a nudez abstrata,
que nada, nada me relata.
Mas, vou girar nas fitas
pela vida, pelo amor,
até que, até que me venha o cansaço;
cansaço de estar envolto, mas o mesmo,
o mesmo solitário.