Vestido de vento

Eis a lua, o vento.
De nós, o próprio tempo.
De mim, o afeto, a palavra,
a resposta na chuva, no relâmpago,
na luz que viaja,
que festeja sua ausência,
que cativa minha presença.
Eis a lua, a solidão.
O vento e o tempo nascem,
sucumbem pela solitude.
Eis a ilha, outra, mais uma,
tantas, tão sós,
somos nós
esquecidos uns pelos outros.
Um arquipélago de frustrações
sob o vento, entre o céu,
perto do sol, longe da vida,
dentro da chuva, longe do pó.
Eis a vida perdida no oceano,
afeita a nós, ao ser humano,
prosaica, fictícia, vã.
Sem gosto de vida,
sem sabor de sal,
sem dividir, sem dividendos.
Eis a lua, o tempo
perto do vento, feito de ilhas,
perto do porto, no abismo da solidão.
Somos muitos, mas um só
para correr atrás da vida,
olhar a lua, beijar o vento,
sentir o tempo
e ilhar em si todo um oceano
malfadado, torpe e desumano.