Outono


Sabor de sal em minha boca.
Sal do sol de verão que não tive.
Verão de tantos sonhos,
das águas que rolaram,
dos ventos que falaram seu nome,
do regresso que participei.
Sabor de amores, gosto de sexo
pelo corpo adornado de calor,
queimado pelo mesmo sol,
sol que brilhou ontem
sem que, sem um porquê,
uma razão feita ao menos de palavras.
Mas, o vento prosseguiu seu desaforo
cantando seu nome,
machucando meu peito,
acariciando sua ausência
que derreteu feito sol,
se perdeu pelo sal.
Agora, já outono,
as folhas flutuam, descem,
fazem um tapete pelo chão,
cortinas de mágoas,
piso de solidão.
Logo virão as folhas verdes
marcando mais um ciclo,
dos tantos que tivemos
e nunca paramos para ver
o porque desta troca.
E sem querer nos trocamos.
Você verde, pronta a amadurecer
e eu amarelado, seco flutuando,
flutuando ao sabor do sal,
do sol amarelo de abril.