Das coisas
A angustiante luta da vida
Esfola, com a faca do tempo, meu coração.
E eu faço, em cada esquina,
A minha mais colérica oração.
A vida é trovão que ecoa;
Que ribomba efêmera,
Que, sem mais, escoa
E, para sempre, vai embora.
"Chore, minha criança,
Esbanje sua tristeza.
Exausta está a lembrança,
Deixe-a ir com delicadeza."
"Chore, homem mau
Que tudo perdeu,
Que a todos amou,
Mas nunca viveu."
Deixem os caminhos imaginários
De uma vida irreal
Cruzarem com os homens ordinários,
Donos de uma amargura surreal.
Que eu invente coisas inadmissíveis.
Almas solitárias que nunca viram o sol
Viajarão nos poemas de rimas invisíveis
E os muros da imaginação não vão parar o meu dizer.
As embargadas coisas da vida serão ditas.
No meu bolso guardarei as estrelas
E só os homens inquietos
Poderão entende-las.
E tudo será, senão, memória.
Pedro Lino.