O açoite

O açoite

Eu vi a noite abissal...

De placas de neon e gás

De luzes de mercúrio dessas metrópoles solitárias...

Vi as noites de dentro dos grandes centros urbanos.

Vi e ouvi, as punks de São Paulo ouvindo Aghatocles...

Batendo cabeça!

Com suas roupas de couro e calças Zoomp.

O ar empregnado de narcóticos...

E as esquinas fugindo de mim.

A cada passo entre o ar frio das madrugadas

Onde os quarteirões dormiam estáticos.

E os gatos surgiam de lixeiras abarrotadas.

Mirei a marina e os seus molhes...

Os seus navios descascados

As putas no cais da Ribeira!

E senti o cheiro de lama que vinha do mar.

Sou um náufrago das solidões...

Dos abismos e dos embustes do amor.

Vivo sozinho no esquecimento das auroras!...

Entre os ébrios perdulários que esperam a morte, sem temor!

E o dia vinha da lama das marés,

para afagar o meu cansaço.

Na luz da qual surgiram os prédios ao sol,

com seus muitos andares!

Suas antenas de tv num céu esfacelado...

Declamando em ondas de wireless as nossas mensagens.

E as águas tinham escamas de lantejoulas,

brilhando na orla ao sol das manhãs.

E o ar, um cheiro de derivados de petróleo.

No bafio inflado de ventos, que vinham das praias.

Francisco Cavalcante