ARQUITETO
Minha fé é fraca
Não foi edificada pela raíz indestrutível dos santos
Regada pelo sangue de suas chagas.
Minha fé é fraca
O arquiteto dela não conseguiu fincá-la.
Minha fé é como um castelo de areia
Ao primeiro vento se desfaz
Minha fé é como o sal da água
Que as ondas jogam e traz.
Minha fé é como conchas velhas sem pérolas
Um ovo podre
Um prego já enferrujado.
Digo que a tenho,
De fato está comigo.
Ela nunca se vai
É minúscula, as vezes se ergue e cresce
Um gigante fraco que no primeiro soco se retrai.
Digo que a tenho,
Ela sempre está comigo.
Aquece meu coração nos planos da madrugada que não se concretizam pela manhã.
É a semente que nunca floresce
Na verdade é uma árvore putrefata.
Minha fé é em deuses e capacidades extraordinárias
Minha fé não gosta do vazio
Mas é o vazio que encontro quando ela quase morre
Sem morrer
E sem respirar.
Minha fé é um Frankenstein de ideais roubados
Em Deus Pai e no Espírito Santo
Nos alienígenas do lado escuro da lua
Da alma que nunca perece.
Minha fé é um Frankenstein mantido em pé pela teimosia
Fraco
Desiludido.
A minha fé é fraca, não precisa muito para derrubá-la
O arquiteto não conseguiu mantê-la,
No primeiro vendo se esvai.
Então ele constrói outra porque areia nunca acaba
Nem as conchas que o mar cospe.
De novo de novo ele ergue essa fé
Sabendo que ela não frutificará.
Ele a ergue e deixa aquecer seu coração
Iludindo, insistindo que não há solidão
Esse arquiteto maldito
Que sou eu
Por não ter fé.