Manga

Ano passado, o cão estava mais magro,

chupava a manga com menor preocupação.

A pedra batia ao telhado e suavizava a queda ao chão,

o cão corria e balançava o rabo,

latia conforme dançava a pena do escrivão.

O pote de tinta virou, lambuzou o chão e o cão,

que correu a sujar seus parentes,

a bater com o rosto negro ao portão.

Lambuzou-se e pediu arrego, a tinta ardia a visão.

Ia o cão desgovernado, berrando, berrando ao salão!

Com o tempo foi acostumando, cansando a lamentação...

Sentou-se no quintal, aguardando água e sabão.

Lavado o cão deitou-se, esfregou-se à memória antiga,

de quando viva era a pena dançante,

de quando vivo era o escrivão.

Carolina Maria Souza
Enviado por Carolina Maria Souza em 23/06/2020
Reeditado em 30/05/2023
Código do texto: T6985568
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