Manga
Ano passado, o cão estava mais magro,
chupava a manga com menor preocupação.
A pedra batia ao telhado e suavizava a queda ao chão,
o cão corria e balançava o rabo,
latia conforme dançava a pena do escrivão.
O pote de tinta virou, lambuzou o chão e o cão,
que correu a sujar seus parentes,
a bater com o rosto negro ao portão.
Lambuzou-se e pediu arrego, a tinta ardia a visão.
Ia o cão desgovernado, berrando, berrando ao salão!
Com o tempo foi acostumando, cansando a lamentação...
Sentou-se no quintal, aguardando água e sabão.
Lavado o cão deitou-se, esfregou-se à memória antiga,
de quando viva era a pena dançante,
de quando vivo era o escrivão.