E NUNCA SAIBAS O QUE ME OCORREU
O imprevisto é
Ter que correr o risco, bem meu
De quando, ausente a tua forma
De um vaso feito do bom barro,
Eu me quebre em pedaços
E nunca saibas o que me ocorreu;
Ou eu caia numa dessas tocaias
Que, maquiadas, não posso ver eu;
Ou uma neblina vasta, infinda
Me sufoque e eu não suporte toda a mágoa
E nesta me afogue, na água!
E nunca saibas o que me ocorreu;
Ou lancem um dardo de fogo
Que queime meu corpo inerte
E alguém haverá de gritar “morreu!”
E vais lá saber se é aí que morro
Pode ser que até me enterrem
E nunca saibas o que me ocorreu;
Ou eu ande por uma calçada
E descubra a casa de um velho amigo
E ele, gentil, a dar-me abrigo,
Me conte no que se meteu
E, na oportunidade, leve-me à outra cidade
E nunca saibas o que me ocorreu.
O imprevisto.
É ter que correr tanto risco, bem meu
Para ouvir-te dizer, ao fim de tudo,
Que, por tudo, o único culpado fui eu.
Tomara que eu não me frustre com nada
E nunca saibas o que me ocorreu.